A HISTÓRIA DE UM MILAGRE
 O meu nome é António Filipe e para mim é um privilégio poder testemunhar acerca do meu passado, mas quero realçar o que sou no presente. Mas vamos por partes.
Fui toxicodependente durante vários anos a dar nas drogas duras, até que um dia um casal amigo que tinham andado comigo na ‘velha vida’ me falaram acerca do Amor de Deus que tinha mudado a vida deles. E como se eu quisesse, também mudaria a minha!
Naquela altura foi para mim uma grande confusão, mas para ser sincero para com eles e comigo próprio, era notório que eles tinham mudado radicalmente. A sua maneira de estar e postura não permitia negar a sua mudança!
 Depois de vários meses a insistirem comigo, lá tomei a decisão de ir com eles ao ‘Café Convívio’ na Marques da Silva. Achei tudo muito esquisito e muito estranho. Só falavam que Deus podia mudar as nossas vidas, como tinha feito com várias pessoas que frequentavam o dito lugar. Na realidade, ainda que fosse estranho, havia naquelas pessoas algo diferente. Transmitiam alegria, gozo e davam-nos atenção. O que mais me chamou a atenção e me começou a cativar foi eles estarem ali para dar sem querer receber nada em troca!
Depois de frequentar esse lugar cerca de três meses propuseram-me a entrada para poder ir para um centro de recuperação e deixar as drogas.
Ninguém faz ideia o que eu passei por causa da ressaca! Cheguei a querer vir-me embora várias vezes, mas lá me fui aguentando sempre, com a ajuda de todos os conselheiros, cooperadores e colegas do programa, tal como eu.
Os dias iam passando com dores. Estive cerca de vinte e quatro dias a ressacar, e era sempre a mesma conversa: ‘Filipe, entrega a tua vida a Deus e vais ver que tudo vai ser diferente!...’, mas tentava resistir no meu pensamento: ‘Aquilo não era para mim: Eu era um osso duro de roer!’
Numa manhã acordei mais cedo, e pedi ao mais velho do quarto – o Dino – se podia ir comigo para a capela orar.
Naquele dia comecei a sentir algo dentro de mim que eu nem sabia explicar o que se estava a passar comigo. Mas era algo anormal, devo dizer.
 A partir daquele dia começou a haver uma transformação na minha vida, e era notório não só para mim, mas também para os demais.
 A partir dali, comecei a dedicar mais do meu tempo a orar, a estudar a Bíblia.
 Agora a minha vida fazia sentido, e posso dizer com toda a segurança: estava apaixonado por Jesus, e cada dia que passava sentia-me mais atraído por Ele.
 Fui batizado no Espírito Santo, comecei a falar em línguas, e cada dia era um milagre.
Foram-me acontecendo coisas sobrenaturais, uma das quais foi nascer no meu coração o desejo de servir na Sua Obra.
Num dia de jejum e oração tive a confirmação de que tinha um chamado de Deus para O servir.
Quando estava a pregar o Diretor João Martins sobre a passagem de Mateus 9:37-38 – “Então disse aos seus discípulos: a seara é grande, mas poucos são os ceifeiros. Rogai ao Senhor da seara que mande ceifeiros para a sua seara.”
Naquele dia tive plena certeza que era hora de fazer a minha parte. Quando chamaram à frente quem estava disponível para servir a Deus, fui logo o primeiro a ir, mas todos pensavam que eram as emoções… Mas fiz questão de, no final do dia, falar com o Diretor João Martins das minhas intenções, e que podia contar comigo para servir a Deus onde fosse preciso. A resposta dele foi a seguinte:
Se queres servir a Deus, este é o dia para começares!...
Na verdade, acabei o programa, e estive a servir a Deus quatro anos no Desafio Jovem como cooperador e conselheiro, e servindo simultaneamente na A.D.B. no ‘Café Convívio’ no Charquinho.
Na igreja deram-me carinho, nunca me julgando pelo meu passado.
Pelo contrário, sempre me deram apoio e depositaram em mim toda a confiança.
Mas um dia decidi as coisas à minha maneira… Pensei que podia dar uma ajuda a Deus!...
Como sempre me dizia a minha avó: “Neto, quem se mete por atalhos, mete-se em trabalhos!”. Nunca lhe dei ouvidos, mas tinha razão!
Comecei a viajar para descobrir outros horizontes; penso que nesse momento cometi um dos piores erros da minha vida…
Como gostava muito de viajar, fui numa viagem dessas para a Holanda que conheci uma moça do Peru que estava ali a trabalhar. Quando a vi, foi amor à primeira vista. Logo trocámos contactos para futuros encontros.
Quando soube que era crente pensei: ‘É a mulher que Deus tem para mim!’, e comecei a investir para o futuro a dois.
Visitei-a no Perú, e tudo estava a correr na perfeição! Tínhamos planos para nos casarmos.
Entretanto aconteceu algo trágico na minha estadia lá: fui roubado, fiquei sem nada, e o que parecia um conto de fadas passou a ser um pesadelo!
Tive de fazer de correio – transportando droga - para pagar o hotel e a viagem.
A tragédia aconteceu no panamá quando fui abordado por um polícia no aeroporto, que me perguntou se tinha alguma coisa que me comprometia. A minha resposta foi afirmativa.
Fui detido, e estive preso no Panamá quase cinco anos e meio, mas a minha pena era de doze anos!
Mas o inacreditável aconteceu na prisão: nomearam-me pastor, tomando conta de setecentos presos! Onde pesava que era o inferno, acabou por se tornar o céu, além do que era pessoa da confiança da diretoria do Centro Penal do Pavilhão oito dos estrangeiros, onde com a ajuda do Senhor edifiquei uma igreja.
Foi um dos dias de mais profunda tristeza, aquele em que tive de regressar a Portugal.
Agora tinha de enfrentar a igreja de Benfica! Acreditem que tinha receio do que iriam dizer a respeito de mim… Sempre tinha tido um bom testemunho para todos…!
Para minha surpresa, receberam-me com todo o amor. Não me criticaram!
Devo do fundo do coração tão grande gratidão da parte dos pastores, dos irmãos e até das crianças. Não tenho palavras para descrever como reconheceram o meu trabalho, empenho e dedicação da minha parte.
Há cerca de dois meses fui nomeado diácono por unanimidade por todos os membros do ministério.
A Deus toda a glória! Sinto que tenho aqui uma grande família.
Que Deus ricamente vos abençoe!...
António Filipe da Silva